Organizada por Rinaldo de Fernandes, esta imponente antologia traz nada menos que 47 contos, alguns deles assinados por nomes consagrados como Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Lygia Fagundes Telles, Marçal Aquino, Caio Fernando Abreu, Roberto Drummond, Moacyr Scliar, Ignácio de Loyola Brandão e Nélida Piñon, entre outros tantos.
Muitos são os bons motivos que podem levar o leitor a encarar esse tijolo que pinga sangue, desde o estudo da violência em nossa sociedade contemporânea a uma pura e simples diversão movida a catarse. Minha motivação principal foi a bela oportunidade de aprender um pouco mais sobre a estrutura e a construção do conto, que ao meu ver representa a essência da fina arte de contar histórias.
Aliás, muito me intriga que hoje em dia os contos tenham meio que “saído de moda” no Brasil. Até mais ou menos a década de 1980 os contos eram bastante apreciados pelos leitores e representavam expressiva parcela do mercado editorial. De lá para cá, a impressão que tenho é que o interesse pelo conto vem caindo drasticamente. O que é de se admirar, considerando a tendência à simplificação progressiva nos escritos de ficção. Talvez o conto não agrade tanto hoje em dia porque, apesar de ser curto em número de páginas, geralmente obriga o leitor a um esforço interpretativo muito maior que em um romance. Será que é por isso?
De todo modo, felizmente eu nunca fui de seguir modas, então pude apreciar bastante a leitura desses 47 “Contos Cruéis”. O aprendizado maior que tive foi que talvez o segredo de um bom conto esteja mais no ritmo da narrativa que em outros elementos, tais como tema, estrutura narrativa ou vocabulário. Difícil mesmo é definir o que seria um bom ritmo! O melhor exemplo que encontrei no livro é o clássico conto de Rubem Fonseca, “Feliz Ano Novo”, que bem pode simbolizar a proposta da antologia como um todo. Essa deve ter sido a quarta ou quinta vez que li esse conto, e a cada vez acho melhor escrito!
É importante destacar também a reflexão sobre a relevância de uma literatura focada na violência. Diz o organizador, na apresentação ao livro: “O Brasil se tornou mais violento nos últimos tempos. A nossa pobreza pede soluções que não chegam. As nossas cidades choram cotidianamente os seus mortos. O escritor vai fazer o quê? Pintar as ruas de risos e rosas?”
Será que a função da literatura é retratar e denunciar as mazelas da sociedade? Ou deveria aspirar sugerir novos caminhos? A catarse é a motivação máxima da literatura? Ou seria a transcendência?
Sem pretender fornecer respostas prontas, acho válido que todo escritor – e leitor – faça a si mesmo essas perguntas, de vez em quando.
E viva a Literatura Brasileira!
“Atmosfera Literária com Fabio Shiva” fez parte do programa ATMOSFERA 102, apresentado aos sábados na Rádio 102.7 FM (Além Paraíba – MG). Apresentação: Fernando Bamboo. Técnico de Som: Venilton Ribeiro. Apoio: NATESHA EDITORA.
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vdeo com erro?
Muitos são os bons motivos que podem levar o leitor a encarar esse tijolo que pinga sangue, desde o estudo da violência em nossa sociedade contemporânea a uma pura e simples diversão movida a catarse. Minha motivação principal foi a bela oportunidade de aprender um pouco mais sobre a estrutura e a construção do conto, que ao meu ver representa a essência da fina arte de contar histórias.
Aliás, muito me intriga que hoje em dia os contos tenham meio que “saído de moda” no Brasil. Até mais ou menos a década de 1980 os contos eram bastante apreciados pelos leitores e representavam expressiva parcela do mercado editorial. De lá para cá, a impressão que tenho é que o interesse pelo conto vem caindo drasticamente. O que é de se admirar, considerando a tendência à simplificação progressiva nos escritos de ficção. Talvez o conto não agrade tanto hoje em dia porque, apesar de ser curto em número de páginas, geralmente obriga o leitor a um esforço interpretativo muito maior que em um romance. Será que é por isso?
De todo modo, felizmente eu nunca fui de seguir modas, então pude apreciar bastante a leitura desses 47 “Contos Cruéis”. O aprendizado maior que tive foi que talvez o segredo de um bom conto esteja mais no ritmo da narrativa que em outros elementos, tais como tema, estrutura narrativa ou vocabulário. Difícil mesmo é definir o que seria um bom ritmo! O melhor exemplo que encontrei no livro é o clássico conto de Rubem Fonseca, “Feliz Ano Novo”, que bem pode simbolizar a proposta da antologia como um todo. Essa deve ter sido a quarta ou quinta vez que li esse conto, e a cada vez acho melhor escrito!
É importante destacar também a reflexão sobre a relevância de uma literatura focada na violência. Diz o organizador, na apresentação ao livro: “O Brasil se tornou mais violento nos últimos tempos. A nossa pobreza pede soluções que não chegam. As nossas cidades choram cotidianamente os seus mortos. O escritor vai fazer o quê? Pintar as ruas de risos e rosas?”
Será que a função da literatura é retratar e denunciar as mazelas da sociedade? Ou deveria aspirar sugerir novos caminhos? A catarse é a motivação máxima da literatura? Ou seria a transcendência?
Sem pretender fornecer respostas prontas, acho válido que todo escritor – e leitor – faça a si mesmo essas perguntas, de vez em quando.
E viva a Literatura Brasileira!
“Atmosfera Literária com Fabio Shiva” fez parte do programa ATMOSFERA 102, apresentado aos sábados na Rádio 102.7 FM (Além Paraíba – MG). Apresentação: Fernando Bamboo. Técnico de Som: Venilton Ribeiro. Apoio: NATESHA EDITORA.
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