Os trabalhos reunidos neste novo livro de José Luís Fiori dão seqüência ao esforço de reflexão e intervenção política inaugurados com Os moedeiros falsos, lançado na estréia desta mesma coleção Zero à Esquerda. São escritos de natureza variada, publicados entre agosto de 1997 e outubro de 2000, nos quais o Autor dá mais um passo na crítica radical da funesta aliança conservadora que domina o cenário brasileiro. Como se trata também de uma aliança intelectual, Fiori fornece igualmente os elementos indispensáveis à identificação dos caminhos teóricos e políticos que levaram a essa grotesca convergência entre banqueiros e professores, velha direita liberal e ex-marxistas, ofuscados estes últimos por um certo economicismo de fácil digestão teórica e conseqüências políticas ditas inescapáveis.
Estes textos expõem ao crivo da análise teórica e histórica os principais mitos que alimentam essa hegemonia liberal. Entre outros, o leitor poderá revisitar o mito do desenvolvimento harmônico prometido aos países que se integrarem à ordem internacional segundo o figurino das políticas liberais; ou seja, tanto o sonho cosmopolita que embala desde sempre parte de nossa elite, quanto o falso determinismo tecnológico de uma suposta inevitável globalização. Conceito tantas vezes repetido, a ponto de perder qualquer sentido analítico, relido aqui à luz da ordem hegemônica - política e financeira - da potência internacional.
Na conferência que dá título ao presente volume, "2001: Brasil no espaço", José Luís Fiori evoca o filme em que Kubrick projetou sua visão poética do futuro do homem no espaço cósmico. Uma utopia dos anos 60 - que a contra-revolução neoliberal se encarregou de congelar. 2001 chegou e, ao contrário de Kubrick, "não dispomos de uma teoria equivalente à da relatividade sobre o espaço e o tempo histórico do universo em expansão do poder e da riqueza mundiais onde se desenvolve, há quinhentos anos, a odisséia do sistema econômico capitalista e seus estados territoriais". Entretanto, na entrada do novo milênio, o Brasil não é uma nave sem rumo.
O país agora tem rumo, como costumam proclamar nossas elites dirigentes, sugadas pelo buraco negro do dinheiro mundial. E por isso mesmo, segue uma rota cada vez mais ostensiva de absorção pelo Império na condição de dominium. Como se demonstrará no decorrer do livro, não se trata todavia de um rumo inelutável, imposto pelas leis físicas da galáxia capitalista. Como estamos no campo da história e não da cosmologia, conclui José Luís Fiori, é perfeitamente possível que o povo brasileiro desligue a memória do grande computador: nesse caso, o rumo da nave terrestre chamada Brasil seria completamente outro. Depois de 2001, é claro.
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