De nossos medos mais profundos é que a ficção fantástica se alimenta. Não exatamente dos medos provocados pela faceta demoníaca do mundo ― fantasmas, vampiros, criaturas da noite ―, típicos da ficção sobrenatural. (Desses também, um pouco.) Mas principalmente dos medos de tudo oque ameaça os frágeis alicerces da razão cartesiana. Pavor de que o mundo e a vida não façam sentido. De que a irrealidade cotidiana não seja coerente. De que seja apenas uma longa piada de muito mau gosto. Humor infame. Pegadinha humilhante de programa de auditório ruim. Pesadelo delirante. Loucura. Mesmo sem saber, os personagens desta coletânea estão constantemente ecoando Calderón de la Barca: “Que é a vida? Um frenesi. Que é a vida? Uma ilusão, uma sombra, uma ficção. O maior bem é tristonho, porque toda a vida é sonho e os sonhos, sonhos são. ” E Shakespeare: “A vida é uma história. Contada por um idiota. Cheia de som e fúria. Sem sentido algum.”
Nelson de Oliveira
Contos / Fantasia / Ficção / Ficção científica / Horror