Duas histórias verídicas revelam facetas inesperadas do funcionamento da sociedade e da cultura escravista brasileira do século XIX - com suas regras e exceções, caprichos e ambiguidades - e lançam nova luz sobre o papel da mulher nas engrenagens da escravidão.
Caetana é uma jovem escrava doméstica de uma fazenda de café do Vale do Paraíba, cujo proprietário decide que ela deve se casar com outro escravo. O casamento é realizado, mas Caetana se recusa a "deitar-se" com o marido. E a recusa é tão obstinada que seu dono resolve pedir a anulação do casamento não-consumado ao tribunal eclesiástico, dando início a um longo processo.
Na segunda história, a senhora solteira Inácia Delfina, da ilustre família dos Sousa Werneck, deixa em testamento parte de seus bens - inclusive escravos - para uma família de ex-escravos de sua propriedade. Porém, graças à astúcia do testamenteiro, eles acabam herdando não terras, mas dívidas.
A partir do processo de Caetana e do testamento de Inácia, Sandra Graham realiza um impressionante trabalho detetivesco de investigação do passado, juntando cacos dispersos e reconstruindo os cenários, laços familiares, relações de gênero, traços culturais e vínculos econômicos que compõem um retrato da região de economia mais pujante do Brasil em meados do século XIX. Como diz a autora, seu livro pretende "recuperar os atos e as vozes das pessoas perdidas".
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