O estudo que o leitor tem em mãos retoma a análise e interpretação do Dom Casmurro, de Machado de Assis. Especialmente a interrogação centenária sobre o enigma de Capitu, ré e vítima, que permanece assim na cultura brasileira letrada. Essa Capitolina, “olhos de ressaca” e de “cigana oblíqua e dissimulada”, é observada, cuidadosamente, pelas lentes francesas do romance romântico/realista, além das do Shakespeare de Otelo, em opressão, psicopatologia cotidiana e ciúme, como encarnação da mulher fatal. Porém, a mulher fatal matreiramente adaptada por Machado de Assis ao “tamanho fluminense” do Brasil oitocentista do XIX (dezenove). A mulher fatal não mais cortesã e devoradora de homens, senão que, vizinha pobre e deserdada, deslocada para dentro da família patriarcal, rica, burguesa e católica do Rio de Janeiro. Devidamente abrasileirada, personagem e simulacro, a viver uma pequena tragédia suburbana, verdadeira e sombria, construída numa relação afetiva e de classe social, que muito sugere do Brasil escravista e periférico. Todos sabemos que Machado de Assis foi um grande leitor e tinha predileção pela língua e pela literatura francesas. Há anos, o prof. Gilberto Pinheiro Passos, especialista em ambas e machadiano de quatro costados, arregaçou as mangas e pôs-se a pesquisar, exaustivamente, e com inteligência e sensibilidade incomuns, o influxo francês nos romances maduros de Machado de Assis.
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