Permeada pelo espanto e fascínio dos autores ante o futuro, Cartas perto do coração traz a correspondência entre Fernando Sabino e Clarice Lispector e permite, a reboque, descobrir o mundo interno desses dois escritores quando jovens.
Na última fase da vida de Clarice Lispector surgiram-lhe outras relações de amizade, mas o relacionamento entre ela e Fernando Sabino foi o primeiro e um dos mais intensos desde o início de sua carreira literária. Em janeiro de 1944, Sabino mal havia completado vinte anos e recebia, em Belo Horizonte, onde morava, o exemplar de um romance chamado Perto do coração selvagem, com uma dedicatória da autora, Clarice Lispector, ainda desconhecida do grande público.
Fiquei deslumbrado pelo livro, confessa Sabino.
Depois de apresentados um ao outro por Rubem Braga, os dois começaram uma amizade marcada pelo convívio diário e conversas marcadas em confeitarias da cidade. Uma ligação retratada em Cartas perto do coração. A amizade continuou, através dessas cartas, com uma freqüência só interrompida quando se encontravam os dois no Rio de Janeiro.
Trocávamos ideias sobre tudo, conta Sabino. Submetíamos nossos trabalhos um ao outro. Reformulávamos nossos valores e descobríamos o mundo, ébrios de mocidade. Era mais do que a paixão pela literatura, ou de um pelo outro, não formulada, que unia dois jovens perto do coração selvagem da vida: o que transparece em nossas cartas é uma espécie de pacto secreto entre nós dois, solidários ante o enigma que o futuro reservava para o nosso destino de escritores.
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