Misterioso e genial, o escultor Francisco das Chagas, apelidado O Cabra, nunca teve o reconhecimento de sua obra na Bahia, onde viveu no século 18. Ao contrário, a elite branca da época tratava aquele mulato alforriado com desprezo e desconfiança apesar de encomendar-lhe a confecção de inúmeras imagens sacras. Cinco dessas esculturas, exemplos clássicos do barroco brasileiro, são o que restou da obra do artista: Cristo Atado à Coluna, o Senhor Morto, Cristo Sentado na Pedra Fria, Senhor dos Passos e Nossa Senhora com o Menino Jesus nos Braços. As imagens pertencem ao Convento do Carmo e à Ordem Terceira do Carmo de Salvador e são uma atração à parte no roteiro turístico-cultural da capital baiana. Quem as vê fica impressionado com os detalhes anatômicos das esculturas. Músculos, estruturas ósseas que sobressaem sob a pele, feridas, expressão facial e outras características físicas moldadas habilmente na madeira, constituem o ponto alto do estilo do Cabra, que já foi comparado ao italiano Michelângelo por vários pesquisadores de arte. A obra Cristo Atado à Coluna que é considerada uma das principais esculturas do barroco brasileiro, mudou a vida da advogada e escritora paranaense Sulema Mendes. Sem nunca ligar para arte sacra, numa visita a Salvador na década de 70 foi levada por amigos até o Museu do Carmo e diz ter perdido a respiração ao ver a escultura. "Chorei de emoção", lembra. "A partir daquele momento, dediquei-me a descobrir quem era aquele escultor." Ela pesquisou o artista durante dois anos e escreveu o livro Chagas, o Cabra que conta essa experiência, em paralelo com a sua versão para a vida do escultor. "Visitei Roma algumas vezes e notei muita semelhança nas esculturas de Michelângelo, principalmente Os Escravos, com o Cristo Atado à Coluna", disse.
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