O bizarro, o sobrenatural, a espreita da morte e uma veia de humor negro são os ingredientes que enredam o clima de suspense dos sete contos que compõem a nova obra de Laura Bergallo, ganhadora do prestigiado Prêmio Jabuti em 2007. Em Cibermistérios e outros horrores, as tecnologias da modernidade – e tudo aquilo pode ser fotografado, gravado e guardado para a posteridade – estão a serviço do horror, sempre com uma abordagem surpreendente.
Antenada com a era dos gadgets tecnológicos, a escritora reinventa o imaginário social sobre os tradicionais elementos do terror. Fantasmas que, antes, arrastavam correntes, agora carregam pendrives em busca de arquivos perdidos. A narrativa mostra que perfis em redes sociais, fotos em câmeras digitais, livros em leitores eletrônicos ou até mesmo um aparelho de fax podem revelar algo de sobre-humano e inexplicável.
Em “uma pose para a posteridade” , primeiro conto do livro, um casal de primos tenta desvendar um mistério que os sufoca, sobre as fotos, a cada flash disparado, por uma câmera digital de última geração, com 14 megapixels e zoom ótico de 5x, aparentemente comum. Um enigma sobrenatural que nem a ajuda de um pai de santo, um padre, um médium espírita, um pastor, um evangélico e um militar aposentado foram capazes de resolver. O desfecho é surpreendente e anuncia os curiosos horrores que estão por vir nos próximos capítulos.
Um casal em lua de mel, na França, protagoniza o segundo conto. “O aparelho de GPS dos seus sonhos: um navegador touchscreen com MP3, conexão sem fio, controle remoto, entrada para cartão de memória... e que até mesmo rodava vídeos” é capaz de proporcionar uma viagem inesquecível ou levá-los aos mais obscuros encontros com o passado; já um aparelho de fax com identificador de chamadas e secretária eletrônica foi o prêmio arrematado por Dona Bela, uma senhora de 75 anos que adora bingos. Para quem detestava tudo o que fosse muito tecnológico, o novo aparelho tornou-se, para ela, a redenção e também a perdição, no terceiro conto do livro.
Redes sociais, e-readers antigos, e um estranho jogo de videogame “fofo” são os aparatos tecnológicos que se articulam nos demais contos, trazendo sempre um perigo virtual iminente que faz de Cibermistérios e outros horrores uma leitura ao mesmo tempo envolvente e apavorante.