Só mesmo um autor reconhecida competência como José Murilo de Carvalho seria capaz de escrever com segurança sobre os problemas que retardam a viv~encia plena da cidadania pelo, digamos, cidadãos brasileiros.Um dos desafios do tema é a atração da simplicidade enganosa,que leva,quase sempre,a um intrincado labirinto.Nessa armadilha o autor deste livro não cai.para rastrear os 178 anos dessa maratona não concluída,josé Murilo centra o foco nos direitos civis,sociais e políticos que constituem algo parecido com a santissíma trindade da cidadania.Já no interior do movimento de 1822 surge um obstáculo " Em confronto com outros países da América Latina", anota José Murilo, " a independência do brasil foi relativamente pacífica".O desenlace com Portugal,amistoso e negociado,não é outra coisa senão a velha e insidiosa conciliação.Mas este é apenas um dos mutos obstáculos que se repetem ao longo do caminho,numa monotonia suspeita.Suspeita por se tratar de exclusão dos movimentos sociais. Mas o povo não participa votando?O voto não é tudo,alerta o autor.principalmente um voto que,além de prisioneiro de uma obrigatoriedade que transforfma direito em dever,vem sendo deformado por interferências externas.José Murilo mostra,já na origem do processo eleitoral, a atuação criminosa do "fósfor".Hoje os marqueteiros prolongam um processo que transitou do ilegal para o legal sem perder,no entanto, a essência do objetivo:a falsificação das vontades.Mas se a participação transborda do voto, o pau canta.É o que acontece,por exemplo,com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,um movimento que, com erros e acertos,nasceu da costela de um latifúndio de 500 anos.Diante da reação raivosa às marchas do MST,ocorre,ás vezes, formular uma metáfora dura contra certos formuladores das políticas públicas no Brasil.Eles imaginam que o melhor dos mundos se faria com um povo cego, surdo,mudo e, principalmente,paralítico.José Murilo de Carvalho lança luzes sobre este e outros cantos escuros da história brasileira.E constrói - ao contrário do que a modéstia o leva a dizer no prefácio - uma grande aula de cidadania Mauricio Dias.
História / História do Brasil