"Neste exato lugar uma grande cidade surgirá, para maravilhar o mundo, e seu império há de durar mais de dois séculos. E tu (...) lutarás para que nunca mais outras mulheres sejam queimadas dessa maneira e para que os homens vejam as mulheres de um jeito novo", declara a deusa Parvati a Pampa Kampana, uma menina de nove anos que acabara de ver a mãe e outras mulheres se entregarem à fogueira após perderem os maridos para a guerra.
Maldição e bênção caminham lado a lado: ao se tornar órfã em terras destroçadas, a criança se vê dominada pelos poderes da divindade, que começa a operar através dela. É dessa forma que Bisnaga, a cidade da vitória, nasce. A partir dos desejos de uma jovem indefesa, erguem-se os muros de um novo e próspero império. Seus cidadãos brotam da terra, suas histórias e memórias são sussurradas segundo a imaginação de Pampa Kampana, assim como suas conquistas e derrotas também são arquitetadas pela profeta -- mas toda narrativa tem um jeito de fugir de seu autor. Com o passar dos anos, governantes vêm e vão, batalhas são vencidas e perdidas, e o próprio tecido da cidade se torna uma tapeçaria cada vez mais complexa. As fortalezas de Bisnaga, então, são comprometidas pela ambição e pela arrogância de quem está no poder. Narrada com o imaginário e a acidez característicos de Salman Rushdie, Cidade da vitória remete aos antigos poemas épicos para evidenciar as contradições do mundo. Uma saga de amor, aventura e mito que é em si uma prova do poder da ficção.
Ficção / Literatura Estrangeira