Quando uma cor, qualquer que seja, colore uma memória da gente, ela a modifica. E é sempre assim que nos lembramos das coisas: uma parcela de verdade mesclada a uma parcela de cor com a qual colorimos tudo. Todas as lembranças são tingidas – tanto as vagas lembranças como as muito reais. Essas últimas, infelizmente, não me pertencem mais, mas, com esforço, consigo pensar em algumas cenas da minha vida, que se traduzem em poesia e modelam-se em sonhos.
Contudo, quero falar com você sobre as coisas das quais não me lembro tão bem: as pessoas e lugares que conheci, os dias que vivi, os tucanos com quem conversei, pois sou uma narradora de sonhos, uma contadora de histórias, uma desenhista de palavras, uma tradutora da alma, uma verdadeira poetisa e, assim como você, sou também uma pintora de memórias.
Estou aqui para contar sobre as memórias tingidas que recolhi durante o tempo em que vivi na Cidade dos Sonhos, um local construído a partir de sonhos coletivos, controlado por crianças, em que a adoção é peça fundamental do sistema, com inúmeros pais à espera de adoção por parte de seus filhos. Ah, claro, a cidade é também guardada por tucanos, que são aves simpáticas na maior parte do tempo, mas não tente contradizê-los.
Fantasia