Estes quinze contos que compõem Dublinenses são sem dúvida a melhor porta de entrada para o conhecimento da obra do mais radical inovador da literatura do século 20.
Em narrativas curtas, o jovem irlandês James Joyce (1882-1941) presta aqui o seu tributo à grande tradição realista do século 19, sobretudo a Flaubert e Tchecov. Mas, como não poderia deixar de ser, o realismo de seus precursores é sutilmente subvertido nos pequenos retratos "fora de foco" de sua Dublin natal.
A trama dos contos pode ser vista como uma série de variações sobre temas irlandeses: o catolicismo rígido, a severa educação escolar, as relações familiares pautadas pela autoridade e a violência, o alcoolismo, a vida cinzenta da classe média, o nacionalismo diante da poderosa Inglaterra.
Vistas em conjunto, essas ficções dão forma ao que o próprio escritor definiu como "uma história moral da Irlanda".
História pública, mas vista predominantemente a partir de um ângulo privado: o escritório, a casa, o Irish pub. Sem chegar ao monólogo interior que marcaria as obras da maturidade, Joyce devassa os movimentos íntimos de suas personagens, confundindo o dentro e o fora, a impressão subjetiva e as miudezas cotidianas. Enfim: todos os elementos que seriam expandidos até a explosão em suas obras maiores, Ulisses e Finnegans Wake.
Em 1987, o cineasta norte-americano John Huston fez o último filme de sua carreira baseado no conto mais extenso e mais famoso de Dublinenses: "Os Mortos", incluído em incontáveis antologias dos maiores contos em língua inglesa de todos os tempos.
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