A história de publicação deste livro é atribulada e indica o teor explosivo da ficção de Alaa Al Aswany. No final da década de 1980, ao terminar de escrever a novela que abre esta coletânea, 'O caderno de Issam Abdulâti', o autor procurou a Organização Geral Egípcia do Livro com intenção de publicá-la. Para sua surpresa, a obra foi recusada por ser ofensiva ao Egito. O autor tentou convencer o funcionário da organização de que as opiniões expressas no texto eram do personagem e não suas, mas teve de escrever uma nota de repúdio às ideias contidas na novela. Outro funcionário propôs cortar os dois capítulos iniciais do texto. Indignado, Aswany decidiu bancar ele mesmo a publicação da narrativa, à qual adicionou os dezesseis contos que compõem este livro. A polêmica novela é a história de um jovem estudante de química que se distingue dos seus compatriotas pela lucidez com que enxerga os vícios e as hipocrisias do país. Os demais contos do livro trazem a mesma visão demolidora sobre os comportamentos tradicionais e arraigados da sociedade egípcia. São narrativas críticas em relação ao ufanismo, à religião muçulmana, ao casamento e às relações extraconjugais, à ineficiência e à corrupção, ao cinismo da política e a um sistema educacional violento e sufocante. O autor apresenta acontecimentos em que o comportamento dos egípcios é visto com um olhar simultaneamente local e estrangeiro, revelando na ficção uma realidade nem sempre lisonjeira. Distanciamento e perspectiva interna se conjugam neste livro para traçar um retrato irônico e empático do Egito.
Contos / Ficção / Literatura Estrangeira