Os leitores familiarizados com "Elogio da Loucura", obra mais famosa de Erasmo de Roterdã (1466-1536), já conhecem a verve humorística desse grande nome da Renascença. O erudito sacerdote holandês quase sempre seguiu à risca a máxima de que "é rindo que se castigam os costumes", sejam eles perversos ou ridículos.
É exatamente essa a abordagem que ele adota em seu "Diálogo Ciceroniano", obra na qual um dos artifícios literários mais típicos da Antiguidade clássica, o diálogo filosófico, ironicamente é transformado em arma contra a tendência de seguir de forma servil os modelos antigos.
Por incrível que pareça, a redescoberta do legado da Grécia e de Roma no Renascimento na época de Erasmo levou alguns literatos europeus a se tornarem "ciceronianos puros", ou seja, defensores da ideia de que o correto era escrever em latim imitando em todos os detalhes o vocabulário e o estilo do orador romano Cícero (106 a.C.- 43 a.C.). Com sua verve habitual, Erasmo mostra que modelos literários não podem engessar a criatividade e a expressividade do escritor e que o estilo sempre deve adequar-se ao tema - uma ideia simples que, num mundo fortemente apegado aos modelos da Antiguidade, tinha algo de revolucionário
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