Os escritos selecionados deixam entrever certas surpresas, como Marina Tsvetáieva tomando por ofensa pessoal zombarias proferidas contra Lênin – o qual por sua vez se encontra, páginas antes, elogiando um livro de contos pró-tsaristas sobre a Guerra Civil. Ou ainda, em trechos dos diários de Búnin carregados de ódio contra os acontecimentos, surgem os vestígios de vozes subalternas que, orgulhosas, expressam suas esperanças no porvir. Extraordinárias narrativas contrastivas como as de Téffi e Bábel, Guíppius e Kollontai, atestam que os sonhos daqueles que testemunharam a Revolução são muito mais complexos. E mesmo um único poema (justamente Os doze, de Blok) será objeto de uma intensa discussão que atravessará diversos textos como uma melodia áspera, já que era indispensável saber qual seria seu lugar – se o primeiro ou o último de uma era. O projeto abarca textos ligados, entre outros, ao marxismo, eurasianismo, "ciitismo", emigração, filosofia simbolista/religiosa, movimentos da poesia e da prosa de vanguarda. São críticas, artigos e fragmentos de diários e cartas de Bábel, Berdiáev, Biély, Blok, Bogdánov, Bukhárin, Búnin, Górki, Guíppius, Kérjentsev, Khlébnikov, Kollontai, Lênin, Lunatchárski, Lunts, Maiakóvski, Mandelstam, Parnók, Rózanov, Suvtchínski, Téffi, Trótski, Tsvetáieva, Tyniánov, Vorônski, Vygódski, Vygótski, Zamiátin. Tais passagens constituem as notas mais vivas desse evento, pois nelas se pergunta a cada instante “o que fazer?” diante do caos e violência de uma mudança que, sem possuir quaisquer precedentes, promete acabar com a miséria e trazer a paz mundial.
Ensaios / História