Estrela da tarde e livro da maturidade, obra crepuscular publicada em 1960, quando o poeta já superara a casa dos setenta anos, começava a meditar com mais profundidade na passagem desta vida para o outro lado do mistério e se mostrava convicto de ter cumprido bem a difícil missão de viver. Não e de se estranhar, pois, a presença mais ou menos obsessiva da morte, saudada com reverencia, conformismo e curiosidade. "O meu dia foi bom, pode a noite descer,/ (A noite com os seus sortilégios)", sintetiza Bandeira no poema "Consoada".
Mas, enquanto a "indesejada das gentes" não vem, o poeta deixa?se absorver, ainda uma vez, por motivos permanentes de sua obra, a paixão pela musica, compondo uma "Letra para Heitor dos Prazeres" musicar, o amor, a amizade fraternal que o leva a cantar amigos perdidos, Mario de Andrade e Jayme Ovalle, o que, de certa forma, realça ainda mais a presença da morte. Símbolo da vida e da arte literária, revelando a paixão do poeta pela tradição, o soneto ocupa um lugar especial nesta coleção de poemas, atestando o virtuosismo inigualável do sonetista "com o seu malicioso esplendor simbólico?parnasiano" (Ledo Ivo), um dos maiores da língua. Basta ler "Mal sem mudança" e "Sonho branco".
Ao lado da tradição, o poeta se arrisca em tentadoras experiências na mais radical corrente poética da época: o concretismo. Os seis poemas concretos do livro demonstram a lucidez e a curiosidade vivíssima do poeta. Estrela da tarde, com sua preocupação pela morte, simbolicamente se contrapõe a plenitude de vida de Estrela da manhã, encerrando um ciclo de extraordinária forca criadora, com o poeta purificado em espírito, esperançoso de uma vida mais alta: "Sou nada, e entanto agora/ Eis?me centro finito/ Do circulo infinito/ De mar e céus afora./ - Estou onde esta Deus".