Nascida logo após a Segunda Grande Guerra, nos debates que Georg Lukács travou com Jaspers e Merleuau-Ponty, propõe-se medir as possibilidades que tem o marxismo de aceitar o existencialismo. Para tanto, Lukács situa-o no panorama geral da filosofia contemporânea, e logo analisa as concepções daqueles que especificamente dirigem-se ao marxismo e com ele dialogam: Sartre, Simone de Beauvoir, Merleau-Ponty. O existencialismo francês torna-se o centro da polêmica, e esta termina por opor irredutivelmente marxismo a existencialismo. Para Lukács, uma escolha se impõe: é impossível a posição conciliatória de um Sartre, por exemplo. Os ataques que este dirige a Lukács em Questão de Método não o impressionam: Sartre, "em sua Crítica da Razão Dialética, aceita Marx, mas quer conciliá-lo com Heidegger. A contradição é clara. Há um Sartre número um no começo da página e um Sartre número dois no fim da mesma página. Que confusão de método e de pensamento".
Assim, Lukács é daqueles que vem mantendo sua oposição ao existencialismo, mesmo quando um dos seus mais expressivos representantes declara que o marxismo é a filosofia insuperável do nosso tempo. Por que? Porque o existencialismo, como o demonstra as suas origens e como o confirma a sua evolução, tem sido sempre a filosofia da pequena-burguesia intelectualizada, incapaz de vencer as limitações de seu condicionamento social, e especialmente sensível às grandes convulsões sociais da época do imperialismo, cujas crises e perspectivas exprime nas categorias de angústia, desespero, Nada, etc.
E se o existencialismo francês tem se mostrado aberto ao marxismo, isto não ocorre com o existencialismo alemão, que além de ignorá-lo oficialmente, combate-o na prática, como exemplo o caso Heidegger bem o ilustra. Desta forma, se a declaração de Sartre é animadora, isso vem demonstrar mais a força do marxismo do que propriamente a virtude do existencialismo em reconhecer os verdadeiros problemas do homem no regime capitalista. Assim, podemos ver em Lukács a tentativa de mostrar as vicissitudes por que passa a filosofia da existência até chegar à aceitação de Marx, ao invés de, apressadamente saudar a nova posição de existencialismo como se os fundamentos teóricos dessas duas concepções fossem livres de qualquer antagonismo, a lhes permitir grandes "intimidades" no futuro. E exatamente o último ensaio de que se compõe o volume contém as posições de princípio que possibilitam a crítica não só do existencialismo, como de toda a filosofia contemporânea e que ao mesmo tempo constituem a resposta de Lukács ao seu famoso História e Consciência de Classe, cuja teoria do conhecimento considera de há muito superada. O confronto que Lukács estabelece entre existencialismo e marxismo lança novas luzes sobre a questão das suas mútuas relações, questão que por não ter sido ainda resolvida, merece toda a atenção e nos obriga a pesquisar as justificativas de todas as posições, principalmente daquele que é considerado o maior filósofo marxista do nosso século.