“Não temos história do amor, da morte, da piedade, da crueldade, da alegria.” A queixa de Lucien Febvre, em 1948, muito repetida desde então, tornou- se quase um manifesto da disciplina que se convencionou chamar a “história das mentalidades”. Uma das lacunas que o fundador da escola dos Annales deplorava foi preenchida pela História do medo no Ocidente, obra de 1978 e já hoje um clássico.
Ao tomar como objeto de estudo o medo, Jean Delumeau parte da ideia de que não apenas os indivíduos mas também as coletividades estão engajadas num diálogo permanente com a menos heroica das paixões humanas. Revelando-nos os pesadelos mais íntimos da civilização ocidental do século xiv ao xviii — o mar, os mortos, as trevas, a peste, a fome, a bruxaria, o Apocalipse, Satã e seu agentes (o judeu, a mulher, o muçulmano) —, o grande pensador francês realiza uma obra sem precedentes na historiografia do Ocidente.
História