Durante 15 dias, em 1936, o jornalista e escritor suíço Blaise Cendrars (1887-1961) esteve em Hollywood, a capital efervescente de uma indústria que estava em plena expansão – o cinema. Cendrars escrevia suas pequenas notas – tomadas a posteriori, para “(...) poder relatar somente o essencial das coisas vistas” –, que seriam publicadas no jornal francês Paris-Soir, e cuja reunião resultou neste delicioso Hollywood: A Meca do Cinema.
Com seu fino, inteligente e crítico humor, tratou dos caminhos das ilusões: dos que buscavam seus sonhos a todo preço; dos que criavam os sonhos; dos que viviam o sonho. Por meio de seus olhos, que não se cansavam daquele espetáculo diário – o cinema na rua – rimos e nos espantamos, com narrativas desde a história de Hollywood até os estranhos costumes de seu “povo”. “Em Hollywood, todo homem que passeia a pé é suspeito”, anota Cendrars, após ser abordado pela polícia. O nascimento do turismo de espetáculo e as longas e patéticas esperas face aos porteiros cérberos dos estúdios: “Um dia, um desses jovens mata-mouros, que me fizeram soletrar três vezes não a palavra ‘Cons-tantinopla’, mas meu nome, e que o havia anotado corretamente diante dos meus olhos ..., teve a desfaçatez de anunciar a uma estrela que me esperava ... que um ‘tal de senhor Wilson estava pedindo para vê-la’”.
Cendrars comenta alguns dos “efeitos colaterais” dessa desesperada busca por sucesso – é impressionante os dados que coleta sobre suicídio entre homens e mulheres em Los Angeles –; descreve, ainda, a indústria em pleno fun-cionamento; destrincha os departamentos responsáveis por cada detalhe do filme e todo o aparato tecnológico; as mo-das que Hollywood passava a lançar (“... comecei a lhe contar que estivera no Brasil na época do lançamento de Loura e sedutora, e que o filme fizera tamanho sucesso no Rio de Janeiro que, em menos de uma semana, todas as belas mulatas e as negras indolentes que saíam no fim da tarde para passear na Avenida ou ... na praia do Flamengo haviam descolori-do o cabelo, e todas se maquiavam de cor-de-rosa”).
Está admirado diante de uma máquina que, em 1936, movia-se em alta velocidade. Mais de setenta anos de-pois, este seu “pequeno livro” serve de base para entendermos a atual e cada vez mais poderosa indústria do cinema e para nos informar e divertir a partir das histórias por trás dos bastidores dos sonhos de várias gerações. (site editora)
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