Conto? Diário? Pinturas em palavras? Poesia? Filosofia?
Em Llansol nenhuma e todas as alternativas estão corretas.
Existem traços de cada uma delas, e, no entanto, sua escrita é única e não se reduz a nenhum gênero específico. Ou talvez inaugure aqui um novo gênero, o Inquérito. Embora tenha o subtítulo de Diário e, fiel a isso, registre os acontecimentos comuns cotidianos, o registro é feito por uma alma que pesquisa e aceita de forma incomum. Para quem o torvelinho de pó pode ser “o grande acontecimento da manhã”. Começa pelo fim. Pelo “fica dito”. Seus personagens são “Figuras”. Cada acontecimento é uma “Cena Fulgor” que pode ser tudo e pode ser nada. Ao mesmo tempo. Seu leitor é o Legente. Não um leitor que espera o começo, o meio e o fim, nessa ordem. Mas aquele que se abre para a possibilidade de ler e ver com outros olhos. Sua ética é a da paisagem. Que se sobrepõe ao humano. E seu universo é povoado de todos os pequenos nadas que não ganham uma significância extra, mas seu significado inexato. A escrita de Llansol está sempre tangendo o que não pode ser verbalizado. A ansiedade do indizível totalmente expressa na escolha da incompletude. Não a teorização sobre isso, mas o fazer disso. O que, por oposição, se completa. “Há frases que no limiar dos mundos não devem ser escritas por inteiro.” As frases de Llansol, que conseguem muitas vezes total autonomia do seu contexto, foram escritas no processo de perda do seu companheiro filosófico, e cada uma das suasQuatro Confidências enfrenta um espaço de dor universal e também cotidiana. Mas sem o sofrer que é provocado pela não aceitação. O sofrer por ver. O que nos faz lembrar outra escritora da língua portuguesa, a brasileira Maura Lopes Cançado e seu livro O sofredor do ver. Embora, no caso de Maura, as circunstâncias, muitas vezes, se imponham sobre o texto, as duas ressignificam a dor. Talvez porque, como diz Llansol.