Brilha na santidade uma beleza de tipo muito superior à que podemos admirar nas leis físicas, nas belas-artes ou no cenário multicolorido da natureza. No entanto, por um estranho paradoxo, essa beleza, apesar de tão elevada, é ao mesmo tempo a mais acessível, pela sua capacidade de suscitar não somente a nossa admiração, mas um vivo desejo de imitação. Nem todos podem ser sábios, heróis, artistas ou inventores; mas a vida do santo fala a todos, e diante dela todos sentimos vibrar alguma fibra do nosso ser ou crescer a ânsia de incorporar à nossa alma uma parte do calor e da inspiração que a animaram.
A vida de São João Crisóstomo é um cume insuperável dessa beleza moral. Em unânime sentir, João é considerado o príncipe dos oradores da Igreja, a ponto de ter recebido o cognome que o caracteriza: Crisóstomo, “boca de ouro”. Mas estaríamos muito longe da verdade se o apreciássemos somente sob esse aspecto: a sua maravilhosa polivalência não se esgota na sua capacidade oratória. Temos de reconhecer nele um consumado exegeta, um moralista e reformador genial, um grande pedagogo, um defensor da justiça diante das arbitrariedades do despotismo, um bispo exemplar, um pai dos pobres que pregou pela palavra e pelo exemplo e, coroando todos esses títulos, um místico e um contemplativo, bem como um mártir da verdade que pregou. Cada um destes aspectos desse homem excepcional constitui uma mina da qual se podem extrair outros tantos exemplos de virtudes do mais alto quilate.
Se se considera que todos esses aspectos entram em jogo na segunda metade do século IV da era cristã, isto é, nesse século crucial em que chega ao clímax a batalha entre o paganismo decrépito e o cristianismo juvenil, e além disso na própria entranha do Império do Oriente, poder-se-á avaliar o interesse e o colorido que apresenta uma vida como esta.