Duas paixões, é bom avisar, cultivadas de modo mais que peculiar. Como leitor, o herói de Jonas, o copromanta corrige os
romances que lhe caem nas mãos, quer se trate de Dostoiévski ou Nabokov. E, no terreno da adivinhação, o herói tem seu
próprio sistema, baseado no estudo compenetrado das formas do bolo fecal. Corrigir romances, decifrar fezes: meras esquisitices, até o momento em que, ao ler “Copromancia”, conto de Rubem Fonseca, Jonas chega à certeza alucinada de
ter sido dolorosamente plagiado por seu ídolo. Para piorar as coisas, a realidade resolve dar uma mãozinha à obsessão, e o
escritor passa a freqüentar a biblioteca, fazendo (ou talvez simulando?) pesquisas para seu próximo romance.
A partir daí, o enredo mergulha numa espiral vertiginosa de perseguição e loucura. A leitura fervorosa que se transforma
em suspeita de plágio (“Nunca se sabe do que um escritor é capaz”) vai aos poucos roubando a substância do herói: os livros de Rubem Fonseca seriam uma transfiguração da vida de Jonas, ou esta seria um reflexo fantasmagórico do que se passa nos livros do autor carioca?
Ficção / Literatura Brasileira / Romance