Bem-aventurados os leitores que, pela primeira vez, vão deleitar-se com essas noites traduzidas do original. E não menos felizes são os que já as conhecem, pois, como escreveu Jorge Luis Borges, "As mil e uma noites não morreram... continuam crescendo, ou recriando-se. E o infinito tempo do livro continua o seu caminho".
O tradutor Mamede Mustafa Jarouche compulsou várias versões manuscritas e impressas em árabe, e o resultado é surpreendente. Além de captar o ritmo e a melodia do original, Jarouche encontrou o tom e a dicção da fala dos personagens, e enriqueceu a tradução com notas esclarecedoras que revelam um conhecimento profundo da língua árabe e da cultura oriental.
Antes da primeira noite, o leitor sabe que o rei Sãhriyãr foi traído por sua mulher, e que esta traição pode ceifar a vida de todas as mulheres do reino. Mas Sahrãzãd decide arriscar sua própria pele a fim de salvar as outras mulheres. Então, começa a contar histórias ao rei. Em cada amanhecer o relato é interrompido num momento de suspense, à espera da próxima noite. Assim, o leitor se depara com tramas ardilosas e escabrosas, cheias de fantasia e surpresa, numa geografia mutável e exuberante como num sonho ou pesadelo. O inverossímil e o inexplicável participam dessas intrigas, que a imaginação da narradora multiplica e expande até a última noite, quando se casa com o rei e salva as mulheres da degola. É esse "repertório de maravilhas" que o leitor vai encontrar nas fábulas do livro das mil e uma noites.
Fábula