A obra Maioria Minorizada do cientista social, comunicador e rapper Richard Santos é fruto de sua experiência pessoal, política, cultural e social de homem negro, do asfalto carioca, forjada na vida familiar, nas bibliotecas, nos shows, nas quebradas, no movimento periférico, na paternidade, nos estúdios, nas redações, nas salas de aula e nos meios de comunicação.
Uma marca importante do trabalho atual de Richard, é a relação que faz entre fenótipo e padrões estéticos rearticulados em marcações identitárias e as mediações feitas pelos veículos de comunicação. Ou seja, como os padrões estéticos e os padrões fenotípicos são mediados pela comunicação que, como aparelho ideológico que reatualiza e perpetua o racismo, institui marcações identitárias negras e não negras e propaga discursos, ideologias, e narrativas que, subjetivamente, orientam os(as) sujeitos(as) à identificação com, e ao reconhecimento como parte de, um grupo social hegemônico racializado como branco ou a uma desidentificação com, despertencimento do, grupo social não hegemônico racializado como negro.
A comunicação, então, vai criar uma marcação identitária do negro, imputada pelo racismo, ligada a imagens, signos, discursos e narrativas do medo, sexo e divertimento que, para além de estereotipar, vai desidentificar esse grupo racial e interferir em sua ordem ontológica, retirando deste as características inerentes à humanidade geral.
Na presente obra, essa marcação identitária que desidentifica os(as) negros(as) surge como um campo, um território de análise da Maioria Minorizada, residindo aí um dos grandes valores desta pesquisa. Para o autor, a categoria pretos e pardos conforma a maioria da população brasileira e independentemente da gradação da cor da pele, o racismo atravessa a experiência pessoal e coletiva desse segmento social e é essa experiência que confere unidade a esse grupo ainda que grande parte dele não detenha ou não queira ou ainda não possa deter consciência racial.
Enquanto dispositivo epistemológico, a Maioria Minorizada, a partir de seus territórios, apesar de todas as tentativas de epistemicídio, nas palavras do autor, segue subvertendo a ordem e registrando seus saberes, conhecimentos e valorizando sua intelectualidade.
Texto editado do prefácio da Profa. Dra. Maria do Carmo Rebouças (UFSB).
Sociologia