As duas novelas reunidas neste volume — Billy Budd e Benito Cereno — podem ser consideradas verdadeiramente representativas da arte poderosa de Melville. Ambas, histórias do mar. Histórias de navios e de marinheiros. Histórias de uma densa substância humana, impressionantes pela crispação dramática.
Benito Cereno é um capitão espanhol feito prisioneiro no próprio barco por uma leva de escravos negros, perto da costa do Chile. Submetido a um tratamento cruel, só então percebe a que limites chega o homem quando levado pela ira e pelo espírito de vingança. Dessa dura experiência escaparia vivo, socorrido por um navio americano, mas vivo só na aparência; na realidade, morto, liquidado para sempre, com a alma afogada em lembranças que seriam a maior tortura no resto de seus dias.
A outra novela, Billy Budd, foi a última que Melville escreveu. A derradeira mensagem, escrita a lápis, às escondidas, como não querendo mesmo que ninguém soubesse disso. Os originais foi a viúva encontrá-los em sua escrivaninha, guardando-os num armário, de onde sairiam mais de 20 anos depois, diretamente para o prelo, quando, por toda parte, se manifestava o maior interesse por lodo o espólio literário ao grande romancista.
Billy Budd é um jovem marinheiro que, por força das circunstâncias, se vê no centro de uma tragédia brutal, sendo por isso injustamente condenado à morte. Uma autêntica obra-prima. Espantosa manifestação de poder criador de um velho de setenta anos.
Quando possivelmente já lhe tremia a mão, ao levar ao papel restos de imaginação e de lembranças, Herman Melville quis ainda deixar um protesto, à sua maneira, contra as iniqüidades que o homem tem que enfrentar, sem perspectivas de vitória nem de compensação. Do fundo de sua solidão o gênio fazia o último esforço para dizer veementemente não ao destino.
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