Para entendermos por que 'O declínio do homem público' já se tornou uma espécie de clássico da sociologia contemporânea, basta olharmos à nossa volta. Basta ver que um país como o Brasil tem, por exemplo, muito mais poetas do que leitores de poesia. Do advogado ao médico, à dona de casa e até ao cineasta, passando, é claro, pela atriz, todos escrevem - e empurram-nos - seus poeminhas. Por que será que é mais fácil escrever poesia do que ler poesia, fazer arte do que ver arte - paradoxo que só pode implicar rebaixamento de qualidade? É que no mundo do 'eu me amo', do narcisismo desvairado, a privatização da existência assumiu proporções tais que o eu constantemente invade o já tão depauperado espaço do outro. Como demonstra o raciocínio de Richard Sennett, ser outro hoje em dia é duro, nesse bulevar de vitrines do ego.
História / Psicologia / Sociologia