Graciliano Ramos publicou Angústia em 1936, ano em que foi preso pelo governo de Getúlio Vargas, sob a acusação de subversão comunista. Luís da Silva, o narrador-protagonista do livro, era um escritor-funcionário que vivia sua profissão sob o signo do tédio burocrático. Durante a história, o narrador relata sua vida ordinária, dividida entre os desejos de sedução de sua vizinha, a presença muda da empregada e a opressão miúda dos superiores. A única marca singular do protagonista é o lento processo de enlouquecimento que o leva a uma condição subumana.
Em tudo, Angústia é um livro de detalhes. Porém, as pequenas paranóias e obsessões de Luís da Silva vão se tornando asfixiantes, principalmente por sua falta de heroísmo. Angústia é o romance da literatura suprimida pelo poder. Aliás, a obra de Graciliano parece marcada pela relação entre poder e direito ou capacidade de falar. A miséria não é a do sertanejo, ou a do burocrata, mas a do homem contemporâneo. A modernidade brasileira, que se diz ter sido construída a partir de 1930, produziu seus anti-heróis resignados, fragmentados, silenciados. O mundo possível da ficção literária, como no exemplo de Angústia, ofereceu uma alternativa para o desnudamento da relação entre poder e linguagem.
Ficção / Literatura Brasileira / Romance