A matéria da poesia de Roberto Marinho de Azevedo é vasta. O humor e a ironia predominam, e os poemas podem então se apresentar em forma de bilhete, de paródia de uma fábula, de pensamentos inacabados. Mas podem também explorar os motivos clássicos da poesia: o amor e a perda, a passagem do tempo, a percepção da realidade.A experiência e a memória têm as dimensões de uma baleia, mas o maior dos mamíferos está presente apenas no título. Os seres que habitam os poemas são de outro gênero: cupins roem o passado, um tamanduá passeia em Copacabana e, na selva, um tigre está à espera de "alguma coisa". As pombas são aves sem consistência - com elas não se faz poesia nem caldo. A solidão é uma cabra oportunista, que se aproveita do fim do amor.A poesia do autor está fora e antes do que dizem os versos: mora no silêncio felino e no momento que antecipa o bote. Esta é uma poética que recusa formas perfeitas e não reconhece imagens consagradas. Manda bilhetes e corteja, sem cerimônia, a fábula, o romance e a cantiga. Encara a literatura com reserva, como quem mira o desconhecido ou aquilo em que já não confia. O poeta foi ao "tenebroso país dos dinheiros" e voltou de mãos vazias, mas não transforma seu descrédito em desesperança ou enfado. À beleza de marfim da estatuária, prefere o instante da respiração: diz as coisas en passant , como se comentasse o aroma fugidio de um bom prato. As sutilezas nos convidam à mesa da poesia.
Poemas, poesias