O livro de Maud Mannoni é um documento-testemunho, acessível a muitos. Ele faz com que o leitor coopere na primeira medida tomada por uma pessoa que vem se consultar, podendo o objeto da consulta ser ela mesma ou um ser querido, e motivada por um pedido de auxílio ao psicanalista. Cada leitor, graças à arte do autor, se sentirá mais ou menos envolvido, iniciado em um modo novo e dinâmico de pensar as condutas humanas e seus desregramentos. Compreenderá o que se quer dizer quando se diz, falando do psicanalista, que o que faz a sua especificidade é a sua receptividade, a sua "escuta". Ele verá pessoas que vieram, sabendo apenas a quem se dirigiam, enviadas pelo seu médico, pelo educador, por alguém que conhece as dificuldades em que estão, mas que não pode ajudá-las diretamente; essas pessoas, na presença de um psicanalista, começam a falar como falariam com qualquer indivíduo e, no entanto, a única forma de escutar do psicanalista, uma escuta no sentido pleno do termo, faz com que o discurso delas se modifique, adquira um sentido novo aos seus próprios ouvidos. Efetivamente, os psicanalistas, pela sua técnica, são orientados para a descoberta e a cura de uma deficiência instrumental. Respondem ao nível do fenômeno manifestado, do sintoma: angústia dos pais, perturbação escolar ou de caráter da criança, por um emprego de dispositivos de socorro específicos, preconizando medidas terapêuticas ou corretivas destinadas a reeducar.