Como toda grande filosofia, a obra de Friedrich Nietzsche (1844-1900) se presta a interpretações muito variadas. Reivindicado como inspiração por muitos, o pensador encontrou no então jovem Michel Onfray um leitor criativo e rigoroso, interessado na valorização das implicações libertárias de suas ideias.
Neste A sabedoria trágica: sobre o bom uso de Nietzsche, Onfray sublinha o entrelaçamento indissolúvel entre experiência e pensamento promovido pelo filósofo alemão, elemento que confere uma integridade exemplar ao conjunto da sua reflexão. Articulada em torno da alegria de viver e da afirmação da existência, a filosofia nietzschiana reconstruída nestas páginas mostra-se plausível e estimulante, sem prejuízo do reconhecimento das altas qualidades poéticas da prosa de seu autor.
O mais importante, contudo, são os encaminhamentos oferecidos quanto ao subtítulo do livro. Situando a leitura proposta em relação ao contexto da recepção francesa do último quarto do século XX, Onfray evidencia a força e a atualidade das ideias em estudo. Com amplo domínio dos temas mais desa-fiadores do repertório nietzschiano, ele estabelece boas razões para admitirmos a crítica às crenças e aos valores tradicionais levada a efeito pelo filósofo para, em seguida, mostrar as promissoras alternativas que decorrem daí. Sem dúvida, um excelente uso de Nietzsche, agora disponível para o público brasileiro (Olímpio Pimenta).