Solombra, de 1963, é um livro curto, para ser lido de um só fôlego, mas que nos apresenta, evidentes, os mesmos questionamentos universais, as mesmas inquietações presentes em toda a obra da poeta. Nele não há limitação geográfica ou temporal, "tudo é no espaço - desprendido de lugares" e "tudo é no tempo - separado de ponteiros". O segundo livro deste volume é Sonhos, compilação de poemas escritos entre 1950 e 1963, reunidos pela primeira vez em 1974. Aqui a temática de Cecília é levada ao extremo. Sons, músicas e cores refletem uma percepção aaguçada do mundo: "Reparei que a poeria se misturava às nuves, / e, sem pôr o ouvido na terra, / senti a pressa dos que chegavam." Nestes sonhos, Cecília Meireles é "navegante que aborda o limite humano", que diz passear por fluidos países, consciente de presença da morte, mas, sobretudo da existência de outros caminhos noa quais "o passeio pode durar para sempre, / pode acabar agora mesmo, ao gorjeio de um pássaro, /a um raio de luz, e esse mundo a existir continua...". Mundo cujas fronteiras ela trata de esfumaçar em seus Poemas de Viagens, escritos ao longo de 24 anos e publicados em 1974. Embora os tpitulos destes poemas indiquem ela claramente os locais retratados, pouco importa ao leitor ser um grande conhecedor de rotas, de geografia. O que está em jogo aqui são impressões universais, ainda que do ponto de vista de um taxista do México, que "Com palavras quase eruditas / e olhares muito mexicanso, / (...) me disse que a tarde / devia ser das mais bonitas.". Não por acaso, uma poesia que nãi diz respeito a nenhum lugar em especial, "infelizmente, falharam as fotografias", é das mais representatvas desse movimento que Cecília empreendeu em seus Poemas de Viagens: "Mas as fotografias falharam. / E, aquele momento já fugiu para trás, no caminho do tempo, / Aquelas duas sombras foram ficando cada duas sombras foram ficando cada vez mais longe. / A compreensão que perdura, é sm retrato."
Literatura Brasileira / Poemas, poesias