Em recente reunião dos Aranhas do Alcapão (grupinho dos mais interessantes em que baseio meus mistérios da Viúva Negra), meu bom amigo L. Sprague de Camp contou-me a seguinte anedota histórica, que deve ser verdadeira, embora nunca a tivesse ouvido.
“Goethe”, disse ele, “veio a Viena visitar Beethoven, certa vez, e os dois saíram, caminhando juntos. Os vienenses, reconhecendo-os, ficaram boquiabertos. Todos os que os encontravam apressavam-se em dar um passo para o lado, cedendo-lhes pasagem; os homens curvavam-se em reverência, as mulheres faziam mesuras.
“Enfim, Goethe disse: ‘Sabe, Herr van Beethoven, estas manifestações de adulação me cansam muito.’”
“Ao que Beethoven respondeu: ‘Por favor, não se incomode, Herr Von Goethe, estou certo de que são dirigidas a mim. ‘”
A história foi concebida com gargalhada geral, e a risada mais enfática foi a minha, pois gosto muito dessas declarações que representam auto-estima espontânea (em razão daquilo que meus leitores chamam de “motivos óbvios”).
Quando acabei de rir, entretanto, disse:
- Sabem, acho que Beethoven estava certo. Dos dois, era o maior.
- Mesmo? – disse Sprague – Por quê, Isaac?
- Bem – disse eu – Goethe tem que ser traduzido.
Houve um breve silêncio e, em seguida, Jean Le Corbeiller (que ensina matemática e é o príncipe dos boas-praças), disse:
- Sabe, Isaac, talvez você não perceba, mas acaba de dizer algo muito profundo.
Eu, na verdade, tinha percebido, mas, como temos que ser modestos, disse:
- É terrível, Jean. Sempre digo coisas profundas e nunca percebo.
Não poderia ter sido mais modesto, acho.
De um jeito ou de outro, é bem possível que nestes meus ensaios eu venha, de vez em quando, muito por acaso, a dizer alguma coisa profunda. Quem flagrar, avise. Gostaria de saber.