Não se pode falar de reforma no século 16 de forma singular. É mais acertado empregar a expressão "reformas", assim mesmo, no plural. Afinal, inumeros projetos buscavam atrair a atenção daqueles que ansiavam por mudanças na igreja e na sociedade dqueles tempos. Ainda que o nome Lutero seja sempre lembrado, muitas vozes, antes e depois dele, canalizaram a insatisfação presente tanto nos círculos acadêmicos como nas camadas populares. Entre elas, destaca-se a de Erasmo de Roterdã (1465/1469?-1536), holandês de nascimento, porém cidadão europeu ou do mundo, por opção. Suas duras críticas ao clero, incluindo a alta hierarquia católica, à teologia medieval e às devoções do povo simples, sem dúvida, alimentaram o desejo de reformas. Daí o comentário, corrente desde então, de que Erasmo havia colocado o ovo, mas coubera a Lutero chocá-lo. O fato é que o programa humanista foi além disso. O retorno às fontes cristãs (Bíblia e Pais da Igreja), a valorização da simplicidade evangélica, a ênfase na educação e a ênfase na espiritualidade interior são apenas alguns aspectos que foram assimilados por outros reformadores. Com frequência, tais contribuições têm sido negadas em função da polêmica com Lutero. Sem negar a graça, Erasmo não quis sacrificar a responsabilidade humana. Agora, com essa tradução, o publico brasileiro pode julgar Erasmo em seus próprios termos.
Religião e Espiritualidade