Transitoriedade e universalidade humana na obra de Ottavio Lourenço
Num movimento visceral e contemplativo Ottavio Lourenço nos traz a superfície cotidiana os reais temas do absurdo que é esta vida e que nos foi posta a mesa pelo mundo moderno, mas que ainda persiste em nos acompanhar, o autor resgata de aclamada tradição literária tanto da paranaense como de um Camus, por exemplo, toda chama urbana com suas nuances de becos e suas retas de concretismo como molduras do homem que passa e ninguém vê.
Ele nos traz o mundo, as possibilidades de um mundo alternativo, a latinidade dessa alternativa, para a cenografia de outras tradições que de longe podem não ser viáveis, mas que quando por uma lente macro sabem-se totalmente possíveis, em uma Curitiba rarefeita ele resgata a universalidade da condição humana em seus níveis mais básicos, onde a necessidade não só física, mas de alma, clama o silencio dos anônimos.
Atrelado a tudo isso, as pinceladas existencialistas, as cores subjetivas trazidas do leste europeu e os momentos históricos que nos unem como um mundo sem muros, sem barreiras, sem qualquer “cultura” que sobressaia o estado e a essência humana para podermos encontrar em Curitiba, mas poderia ser em Vancouver, Jerusalém, Roma ou qualquer outra cidade do mundo os mesmos caracteres que fabricam tais jornadas, que emaranham as linhas dos encontros ou tornam elásticas as distancias sem rompê-las.
Quem não reconheceu alguma das experiências dos personagens de Ottavio como sua, quem nunca identificou um ato, uma cena, uma fala, uma tradição como tirada de suas próprias memórias? Pois aqui está, vidas transitórias são eles, são deles, mas também somos nós, são as nossas. O que nos leva a concluir que encerramos como humanidade na pessoa, seja onde for, vai depender apenas de um acaso para mudar rumos, variar finais, possibilitar roteiros, mas invariavelmente condicionados por nós, os atores de nossas próprias fases que são as transitoriedades de estar.
Portanto Ottavio nos chama a atenção justamente à importância da vida como ser-aqui sendo a única realidade possível a qualquer sujeito, mesmo que este em dado momento tenha sido sujeitado pelas forças maiores do externo.
Diego Marcell
Literatura Brasileira / Contos / Filosofia