Quando 'O Retrato de Dorian Gray' foi publicado pela primeira vez em forma de livro, em 1891, era uma versão substancialmente alterada do romance original de Oscar Wilde. Considerado muito ousado para sua época, já tinha sido editado quando publicado em série na revista literária Lippincotts, em 1890, e depois ainda foi alterado pelo próprio Wilde, que, em resposta às duras críticas, fez sua própria edição para a publicação em livro. Assim, a versão original, tirada do manuscrito de Wilde, nunca havia vindo a público.
Nicholas Frankel, professor de Inglês na Universidade de Virginia, teve acesso ao original datilografado de Wilde, revisitando e restaurando o romance como foi pensado originalmente. The Picture of Dorian Gray: An Annotated, Uncensored Edition foi finalmente publicado pela Harvard University Press e agora sai pela Primeira vez no Brasil, pela Biblioteca Azul. O estabelecimento do texto feito por Frankel incluiu os trechos em que Wilde tratava da homossexualidade de maneira mais aberta, constituindo, assim, nas palavras do organizador, uma versão que Oscar Wilde gostaria que estivéssemos lendo no século XXI.
Frankel também incluiu em sua edição centenas de notas que situam o romance em sua época, além de traçar, paralelamente ao texto, uma espécie de biografia de Wilde, centrando nos episódios de sua vida que foram consequências da sua exposição feita no romance. "Dorian Gray é um arauto do século 20 um arauto da modernidade", disse Frankel. O livro faz a transição da era vitoriana para o moderno e Wilde pagou um preço muito alto por isso.
O livro Londres, início do século XX, três personagens: Lord Henry, um bon vivant inescrupuloso e amoral; o pintor Basil Hallward, um artista até certo ponto liberto dos preconceitos da época, mas ainda zeloso de aparentar tê-los; e o jovem Dorian Gray, filho da aristocracia, rico e, sobretudo, muito belo. É com esses elementos que Oscar Wilde compõe o cenário de um dos mais importantes romances da língua inglesa da virada do século XX, O retrato de Dorian Gray.
Seduzido pela admiração que ele próprio causa nos dois amigos, e, sobretudo, pela própria beleza retratada por Basil, Dorian tem um momento do pacto faustiano: faz um juramento dizendo que daria tudo, inclusive sua alma, para que ficasse sempre jovem e belo. Assim, enquanto o retrato exibe todo o efeito de degeneração moral, e vai envelhecendo, Dorian mantém-se belo e jovem, apesar de toda vileza, das maldades e da falta de escrúpulos que vai adquirindo.
Oscar Wilde desenvolve essa sua espécie de mito de Fausto com um estilo incomum, tiradas morais ferinas e frases que se tornaram lapidares na história da literatura mundial. A elegância da escrita, a crítica ao jornalismo da época e a crueza do julgamento da hipocrisia da sociedade o tornaram, no calor do lançamento, um clássico instantâneo, apesar da dureza com que foi recebido pela crítica literária e, claro, pelos moralistas de plantão.
EDIÇÃO ANOTADA E NÃO CENSURADA
Ficção / Literatura Estrangeira