Bouvard e Pécuchet (o último romance do autor de Madame Bovary) é também uma obra-prima do romance moderno: narra o encontro de dois parisienses solitários e antagónicos, o seu imediato entendimento e partilha de vida percorrendo o mundo em busca de conhecimento.
Aquilo a que se chama amor à primeira vista vale para todas as paixões. Antes do fim dessa semana tratavam-se por tu. [...] Era frequente irem-se procurar um ao outro nos respectivos escritórios. Logo que um aparecia, o outro fechava a sua carteira e saíam juntos para a rua. Bouvard caminhava a grandes pernadas, enquanto Pécuchet, multiplicando os passos, com a sobrecasaca a bater--lhe nos calcanhares, parecia deslizar sobre patins. Também os seus gostos específicos se harmonizavam. Bouvard fumava cachimbo, gostava de queijo, tomava regularmente o seu copinho. Pécuchet cheirava rapé, só comia compotas à sobremesa e molhava um torrão de açúcar no café. Um era confiante, irreflectido, generoso. O outro, discreto, meditativo, poupado. [...]. Pécuchet foi contagiado pela aspereza de maneiras de Bouvard, Bouvard contraiu algo da melancolia de Pécuchet.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance