Juana Manso (1819-1875) é considerada até hoje uma das mulheres latino-americanas mais emblemáticas do século XIX. Nascida na Argentina, foi escritora, poeta, tradutora, jornalista, educadora e “precursora” do feminismo não só em seu país de origem como também no Uruguai e no Brasil. Contrária ao governo militar argentino de Juan Manuel de Rosas (1793-1877), sofreu perseguição política e acabou se exilando no Rio de Janeiro em 1842 e lá permanece até 1853, data em que o governo de Rosas é, enfim, derrubado na Argentina.
Enquanto esteve no Brasil, publicou o romance histórico “Misterios del Plata” (1852) e iniciou “La familia del comendador”, o primeiro romance abolicionista ambientado no Brasil, que foi concluído na Argentina em 1854. "Úrsula", obra-prima de Maria Firmina dos Reis, foi publicada cinco anos depois, mas é, ainda, a primeira obra abolicionista de autoria brasileira.
A primeira versão desse romance começou a ser escrito em português e publicado no jornal “A Imprensa”, revista voltada para mulheres criada em 1852 da qual Juana Manso foi uma das fundadoras. Por causa da sua volta à Argentina, esse texto ficou sem conclusão e a escritora recomeçou a obra em espanhol, com diferenças cruciais na história, que resultou no livro que a Pinard traduz para o português e publica pela primeira vez no Brasil.
O romance narra a história da rica família do comendador Gabriel das Neves, regida pela mão-de-ferro de sua mãe, Maria das Neves, e por sua ambiciosa esposa, dona Carolina, com quem teve três filhos – Pedro, Gabriela e Mariquita – cujo destinos foram traçados segundo o interesse da avó.
A situação familiar se desestabiliza quando a matriarca decide que a neta Gabriela deve se casar com o tio Juan – que teve filho com uma das escravas e que acabou por enlouquecer de tanto ser espancado pela própria mãe por querer abolir a escravidão dentro de seu ambiente familiar. A jovem se revolta com a decisão da avó e foge, refugiando-se em um convento, fazendo com que cada um dos membros da família se mobilize, obrigando o acerto de contas do passado para que o futuro não se resulte na dissolução total dos Neves.