A minha esquerda reúne 23 textos escritos por Edgar Morin em tempos diversos. São artigos em revistas e jornais franceses, conferências, textos inéditos e fragmentos já publicados em alguns de seus livros. Essa constelação viva e pulsante de ideias demonstra o vigor das grandes obras capazes de se autorregenerar por meio de desdobramentos e metamorfoses, porque marcadas pelo inacabamento. Longe das verdades unitárias, o pensamento complexo é gestado à temperatura de sua própria destruição, como afirma Morin.
Quem leu os seis volumes de O Método reconhecerá aqui fagulhas de argumentos densamente apresentados na obra seminal do autor. Quem não leu receberá de presente algumas chaves para acessar a densa matriz de um método complexo e transdisciplinar.
O livro é uma cartografia aberta de problemas multidimensionais que emergem de uma sociedade-mundo maestrada pela ocidentalização do planeta, fim das certezas, expansão e necrose da política, desequilíbrios ecológicos, intolerância com os imigrantes, mitologias do progresso e da tecnociência, aceleração exponencial da economia, ilusão de imortalidade do capitalismo. Fenômenos que nos acomete a todos – sejamos do Norte ou do Sul, do Oriente ou do Ocidente. O escopo de referência a contextos nacionais diversos – entre eles ao Brasil, pela alusão às políticas para a Amazônia dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula – faz das reflexões aqui expostas um Atlas de um mundo familiar e estrangeiro a todos nós.