A imaginação poética é sempre dialógica. Forma uma constelação de afinidades afetivas. Ela se estrutura em fragmentos luminosos, um bando de pássaros, que atravessam lugares e épocas, em busca da melhor estação ou outra atmosfera para nidarem. E a existência em sua clausura, imaginada pela via amorosa, convoca a encarnação da palavra. Transferir-se por essa via e ainda dentro dela, é contemplar a realidade abrindo janelas às asas migratórias. A imaginação se enerva de letras na poética da errância e do assombro. Na Ilíada, o poeta pede às musas para guiá-lo, pois somente a poesia torna a visão mais aguda. Os humanos, sem poesia, só ouvem ruídos. Dante pede a Virgílio a tarefa de ser seu Guia, quando o poeta é guiado por outro poeta, II meglior fabro. No texto que vai de Abraão ao cordeiro pascoal, O Verbo se encarna e o pão, um simples pão repartido, é meu guia.