Tom vive as mais divertidas histórias ao lado do amigo Huck, o mesmo de As aventuras de Huckleberry Finn. Juntos, os dois inventam artimanhas para escapar das aulas, fogem para ilhas desertas, testemunham um crime e, por fim, consagram Mark Twain como um dos fundadores da literatura norte-americana. Em As aventuras de Tom Sawyer vemos ainda como a iminência das mudanças gera contradições que são um prato-cheio para o humor: pouco antes da Guerra Civil Americana — no meio do século XIX —, preconceito e escravidão convivem com costumes aparentemente rigorosos que se mostram maleáveis, sempre contornados pela ética própria do povo; enquanto isso, Tom encara o conflito entre a ingenuidade remanescente da infância e a malícia quase adolescente de quem acha que tem o mundo nas mãos (e de fato tem: a serviço de sua imaginação). É dessa história sagaz que nasce a voz de uma geração atemporal. Pescar e explorar cavernas podem não ser hoje atividades tão comuns entre jovens urbanos, mas talvez uma das maiores qualidades da obra seja a de trazer à tona infâncias ancestrais que nos habitam e provar como a passagem do tempo transforma a sociedade, mas não representa o fim da fantasia.