No quarto e tão aguardado romance de Daniel Galera, um professor de educação física busca refúgio em Garopaba, um pequeno balneário de Santa Catarina, após a morte do pai. O protagonista (cujo nome não conhecemos) se afasta da relação conturbada com os outros membros da família e mergulha em um isolamento geográfico e psicológico. Ao mesmo tempo, ele empreende a busca pela verdade no caso da morte do avô, Gaudério, que teria sido assassinado décadas antes na mesma Garopaba, na época apenas uma vila de pescadores.
Sempre acompanhado por Beta, cadela do falecido pai, o professor empreende uma investigação sobre o misterioso Gaudério, esquadrinhando as lacunas do pouco que lhe é revelado, a contragosto, pelos moradores mais antigos da cidade. Portador de uma condição neurológica congênita que o obriga a interagir com as outras pessoas de um modo peculiar, o professor estabelece relações com alguns moradores: uma garçonete e seu filho pequeno, os alunos da natação, um budista histriônico, a secretária de uma agência turística de passeios. Aos poucos, ele vai reunindo as peças que talvez lhe permitirão entender melhor a própria história.
É também com lacunas e peças aparentemente díspares que Galera constrói sua narrativa. Dotado de um senso impecável de ritmo, ele alterna descrições ricas em sutileza e detalhamento com diálogos ágeis e de rara verossimilhança, que dão vida a um elenco de personagens inesquecíveis.
Barba Ensopada de Sangue resgata e leva às últimas consequências temas e conflitos das obras anteriores do autor tais como: a construção da identidade e, nesse processo, as dificuldades que enfrentamos para entender e reconhecer os outros; a necessidade inconfessa de uma reparação talvez inviável; a busca pela unidade entre mente e corpo; o consolo afetivo que o contato com a natureza e os animais é capaz de nos proporcionar; os diversos tipos de violência que podem irromper em meio a uma existência domesticada.