Batendo pasto é o primeiro livro de poemas de Maria Lúcia Alvim (Araxá, MG, 1932) após 40 anos sem publicar inéditos (até o ano de 1980 ela teve 5 livros publicados). A chegada desta obra em 2020 se mostra como um verdadeiro acontecimento, pois é fruto de um trabalho conjunto que envolve descobertas, recuperação crítica e encontros fortuitos. Guilherme Gontijo Flores e Ricardo Domeneck foram os responsáveis por esse périplo em busca das publicações e informações sobre a poeta e, dentre algumas curiosidades, descobriram que ela compõe a tríade dos Alvins, uma vez que é irmã de outros dois grandes poetas: Francisco Alvim e Maria Ângela Alvim.
Mas a grande surpresa seria mesmo esta: Maria Lúcia Alvim confiara ao poeta Paulo Henriques Britto, há algumas décadas, o manuscrito de Batendo pasto, de 1982, com a instrução de que fosse publicado apenas após a sua morte. Para nossa alegria, e através de um esforço de convencimento e reconhecimento em vida, temos este Batendo pasto finalmente entre nós. Maria Lúcia Alvim vive hoje em Juiz de Fora e completará seus 88 anos no dia 4 de outubro de 2020.
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Pois qual explicação podemos dar para que este Batendo pasto, escrito em 1982, seja o primeiro inédito de Maria Lúcia Alvim em quarenta anos? Como passamos quatro décadas sem o trabalho de uma de nossas excelentes poetas do pós-guerra, com uma obra múltipla, que passa pela tradição do soneto, pela experimentação com a fala do quotidiano, com o minimalismo de seus epigramas, e ainda o caudaloso histórico de tantos poemas daquela obra-prima que é o Romanceiro de Dona Beja (1979)?
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Escrito em 1982 na Fazenda do Pontal em Minas Gerais, o livro vem marcado por um vocabulário do campo, da vida específica que lá se desenrola unindo os ritmos das refeições ao das colheitas, dos seres humanos a outras espécies que com eles habitam tais espaços: vacas, cavalos. Mas o livro não celebra qualquer utilitarismo comercial: tudo é digno, tudo vive e compartilha espaço e seu oxigênio, os morcegos, as galinhas e os pavões, os gatos e as moscas, ou, no Reino Vegetal, tanto o arroz como o capim. Essa é uma das grandes belezas do livro, que marcará a mescla de registros ao longo dos poemas, nos quais a palavra precisa por vezes requer a pobreza, por vezes a riqueza.
Ricardo Domeneck