Ondjaki nos traz um convincente relato desses fundamentais anos de mudanças e esperanças. Não mais a visão desamparada e repleta de culpas de alguns escritores portugueses- os "tugas" -que participaram da guerra colonial, nem também a visão militante dos escritores angolanos dos tempos heróicos de Agostinho Neto, mas a visão realista e pragmática de uma classe média que tenta se erguer em meio ao caos. O menino, filho de um alto funcionário do governo, tem um pajem -o "camarada Antônio", cozinheiro e voz de uma certa camada popular -, estuda numa boa escola, que tem professores cubanos, e desfruta de algumas benesses, como pegar "boleia" (carona) no carro do Ministério e contar com telefone e "geleira" (geladeira) em casa. Bom Dia Camaradas é um desses livros não tendo sido escrito para um público ou específico, acabará, com toda certeza, ampliando o leque, interessando também a esta vasta massa de leitores que o mercado hoje nomeia como "jovens adultos" -algo como aquele clássico indispensável, ´Os meninos da rua Paulo´, de Férenc Molnar.