Buraco de dentro é mais do que uma ficção, é a representação de uma realidade: a das invisibilidades que compõem cenários das grandes cidades. Mostra a quebra de limites humanos que leva uma família - homem, mulher e três crianças - a se esconder por dias num bueiro, abaixo do nível da calçada, tentando sobreviver à fome, sede, ratos e baratas.
O personagem principal, Vítor, narra a sua história em primeira pessoa, com sua linguagem possível. Não permaneceu muito tempo na escola, foi tragado pelas ruas. Filho de catador de lixo, é irmão mais velho de uma legião de crianças que veem a infância barganhada, na fome e na violência. Tem idolatria pelo pai e disputa espaço com a mãe em uma vida sem afeto.
Vítor passa a viver nas ruas e conta sua história em fluxo de consciência. São oito capítulos de “dentros”, de reflexões: Dentro do bueiro, Dentro da minha cabeça, Dentro da escola, Dentro da geladeira, Dentro do inferno, Dentro da rua, Dentro da briga e Dentro da morte.
O ciclo da pobreza, na sua reprodução de misérias, engole, como redemoinho, Vítor, sua mulher e filhos. A rua é mapa de tentativa de sobrevivência, onde tropeçam em buracos de fome, de sede, de assédio, de opressão, de limites.
A vida, neste romance, bruto nas suas desvivências, passa a ser um grande e infinito buraco de dentro.