Corriam boatos sobre a saúde da jovem Yasuko, conta o escritor japonês Masuji Ibuse no seu livro "A Chuva Negra". A garota, diziam, certamente fora atingida pela doença da radiação. Estava contaminada e se tivesse filhos seria uma desgraça. Assim, um por um, os pretendentes dela foram sumindo. Uma casamenteira que andara pela aldeia de Kobatake e que se interessara por ela, não demorou também em desistir. Contavam por lá que ela estivera em Hiroshima no dia que a bomba explodira - no 6 de agosto de 1945 - e que o seu sangue estragara.
Shigematsu Shizuma, o tio da garota, que a tomara para criar, indignou-se. Tinha certeza de que ela não estivera exposta à explosão. Ele sim vira tudo, mas não sua sobrinha.
Tentou livrá-la da suspeita arranjando um atestado médico. Foi pior. Ai mesmo que a desconfiança aumentou. Decidiu então copiar o diário da sobrinha que, seguindo o exemplo dele mesmo, resolvera registrar os últimos momentos daquela guerra terrível travada contra os americanos. Queria mostrar a todos que Yasuko estivera sim em Hiroxima, mas apenas no dia seguinte, fazendo parte do Corpo Patriótico de Voluntários que fora mobilizado pelas prefeituras vizinhas à cidade destruída para socorrer aquela pobre gente atingida pela bomba mortífera, pela "nova arma" como diziam. Nem sequer fora respindaga pela Kuroi Ame, a chuva negra, a descarga de partículas radioativas que, misturada as nuvens, se desprenderam do céu depois da explosão nuclear.