Como esclarece na nota introdutória ao livro o professor Alcir Pécora, organizador das obras reunidas da autora publicadas pela Editora Globo, Com os meus olhos de cão se situa entre a novela A obscena senhora D e o romance O caderno rosa de Lori Lamby, podendo ser visto como uma ponte, portanto, entre a literatura dita “séria” e a dita “obscena”, como Pécora prefere caracterizar, em oposição à idéia de que a autora teria escrito literatura pornográfica.
Em Com os meus olhos de cão nos encontramos com uma autora absolutamente madura, orquestrando com vigor todos os domínios técnicos da escrita. Como já se sugeriu, a prosa de Hilda é poética, o que se evidencia em qualquer fragmento do texto, que mistura poemas, diálogos e prosa propriamente dita. Retomando recursos anteriormente já experimentados, a autora também multiplica os narradores, tornando ambíguos os enunciadores e criando relações fantasmáticas entre eles, podendo inclusive se replicar em diversos alter egos. O leitor tem que estar atento, pois a passagem de um narrador para outro ou entre presente e passado não é efetuada por procedimentos óbvios da prosa, cabendo ir desmontando, frase após frase, os enunciadores.