O Conto do Inverno, peça teatral composta por William Shakespeare no início do século XVII, segundo consta, logo antes de Cimbeline, Rei da Britânia, foi publicada pela primeira vez no célebre Fólio de 1623, primeira coletânea das obras dramáticas do poeta nascido em Stratford-upon-Avon, em 1564. Classificada entre os "romances tardios" (ou tragicomédias) junto a Péricles, Príncipe de Tiro, à Tempestade e à já citada Cimbeline, O Conto do Inverno divide a ação entre a Sicília e a Boêmia, não faltando encontros e reencontros fantásticos, magia e surpresa, em uma gama de situações que vão da tragédia à comédia pastoral. A peça encerra inspirada teatralização de uma obra em prosa, um velho conto, Pandosto, recontado e publicado no final do século XVI, por Robert Greene, contemporâneo e rival de Shakespeare, obra bastante popular à época e cujo subtítulo - O Triunfo do Tempo - já sugere um dos principais temas do Conto do Inverno, isto é, do Tempo como "pai da verdade". Mas, conforme costuma ser o caso, ao se apropriar de Pandosto, Shakespeare transforma a fonte utilizada, introduzindo elementos sumamente teatrais, como por exemplo, a inusitada e memorável rubrica "Sai, perseguido por um urso", no terceiro ato, ao mesmo tempo catastrófica e farsesca; e a célebre "cena da estátua", no quinto ato, autêntico coup de thêátre, tão implausível quanto comovente. É rica a historiografia do Conto de Inverno em performance no mundo anglófono. Os registros têm início com o relato de Simon Forman, astrólogo e "médico" que assistiu a uma montagem do Conto no Teatro Globe, em Londres, em 1611. Consta que a peça fosse apreciada na corte de Jaime I, tendo sido encenada durante as festividades do casamento da Princesa Elisabete, em 1612-13. No século XVIII, o texto costumava ser montado em adaptações radicais e truncadas, muitas vezes reduzidas às cenas pastorais. No século XIX, houve relativamente poucas montagens, mas grandes atores britânicos (por exemplo, Charles Macready, Henry Irving e Charles Kean) atuaram no papel de Leontes, Rei da Sicília. No início do século XX, o célebre ator, diretor e dramaturgo inglês, Harley Granville-Barker, montou o texto, e na década de 1950, a peça foi encenada por Peter Brook, com John Gielgud no papel de Leontes, papel que, na segunda metade do século XX, foi desempenhado, sucessivamente, por Patrick Stweart, Jeremy Irons e Antony Sher.