Nunca é possível reconhecer o último momento de felicidade que antecede uma tragédia. Seja ela o ataque às torres do World Trade Center, seja o cruel bombardeio aliado sobre Dresden, que arrasou a cidade e a população civil da histórica cidade alemã na Segunda Guerra Mundial. Portanto, dificilmente há tempo de verbalizar o amor que se sente pelas pessoas próximas que, por um golpe do destino, tornam-se distantes. Esta constatação e os dois acontecimentos históricos guiam Extremamente alto & incrivelmente perto, segundo romance de Jonathan Safran Foer, autor do aclamado Tudo se ilumina.
O principal narrador do livro, Oskar, é um menino extremamente inteligente de 9 anos de idade. Ele sofre com a morte do pai, uma das vítimas do ataque ao World Trade Center, que estava no local da tragédia por um mero acaso: uma reunião no Windows of the World, o restaurante no último andar de uma das torres. A dor de Oskar não vem só da perda, mas do fato de julgar ser o único a ouvir as últimas palavras emitidas pelo pai, deixadas numa secretária eletrônica.
O grande mérito da história de Foer é que Oskar é uma criança intelectualmente bem-dotada, aparentemente maduro para sua idade, mas, ainda assim é uma criança que não tem idéia de como lidar com a dor e usa a imaginação para criar inventos absurdos e escrever cartas para celebridades do mundo científico, oferecendo-se como pesquisador assistente. É essa mesma imaginação fértil que o levará a se transformar em detetive, após encontrar uma chave, que aparentemente nada abre, entre os guardados do pai.
A investigação sobre essa chave lhe abrirá as portas para o mundo real e para a história de sua família, que é contada nas narrativas paralelas de seus avós. Sobreviventes do bombardeio que matou 50 mil civis na cidade de Dresden na Segunda Guerra – que muitos historiadores afirmam ter sido um ataque terrorista perpetrado pelos aliados – os avós de Oskar também viram seu mundo ruir. A avó superou a dor. O avô, não. Ainda assim sobreviveram.
A narrativa é conduzida não apenas por frases e parágrafos, mas também por palavras dispersas, grafismos, cores, fotos, códigos numéricos e textos sobrescritos. Tais recursos são muito mais que maneirismos estilísticos; exemplificam a dificuldade de estabelecer comunicação, de achar as palavras certas no momento certo. Uma inteligente metáfora para os personagens de Foer, pessoas que amam profundamente, mas têm extrema dificuldade em dizê-lo.