Os ensaios reunidos em "Ferreiros e alquimistas" mostram o lugar específico que ocupam na história das formações sociais as culturas exóticas, arcaicas e primitivas, irredutíveis aos enfoques e valorizações eurocêntricos. O conjunto de mitos, ritos e símbolos associados aos ofícios de mineiro, metalúrgico e forjador, cujos segredos se transmitem de geração em geração através de ritos iniciáticos, ilustra as trocas de atitudes mágico-religiosa dos homens do mundo pré-industrial com respeito à matéria desde o preciso momento em que descobrem seu poder para mudar o modo de ser das substâncias minerais. Mircea Eliade assinala que esse duplo caráter experimental e místico está igualmente presente na alquimia, tanto em sua versão ocidental como nas variantes chinesa, ou hindu. Das práticas e experiências alquímicas nascerá a química, a partir da decomposição da ideologia pré-científica posta em marcha por um processo geral de secularização. Porém, a alquimia é, também, uma ciência sagrada que estuda a passagem, o matrimônio e a morte das substâncias, destinadas à transmutação da matéria (a Pedra filosofal) e da vida humana (o Elixir da vida).