Uruguai e Paraguai são dois países sul-americanos pequenos, mas muito diferentes entre si. Podemos até dizer que são opostos, a partir de um olhar tipicamente brasileiro.
O Paraguai é associado à precariedade e ao contrabando. Na linguagem comum, o adjetivo “paraguaio” descreve algo falsificado — o “uísque paraguaio” é um exemplo disso. E, como é de praxe acontecer com estereótipos, toma-se a parte (Ciudad del Este e o comércio de importados) pelo todo (o Paraguai).
Já o Uruguai é geralmente percebido como um país de gente culta, educada e cabeça aberta, em especial depois das legalizações da maconha, do casamento homoafetivo e do aborto, ações que reforçaram essa imagem. Essa perspectiva entende o país como um pedaço progressista da América Latina, menos desigual na economia e mais inclusivo nos direitos. Desse modo, enquanto o Paraguai é considerado uma sociedade atrasada, conservadora, autoritária e tutelada por um Estado repressivo, o Uruguai é associado a valores democráticos, liberdades políticas e a uma sociedade civil atuante.
Em síntese, se recuperarmos uma antiga dicotomia do pensamento latino-americano, podemos dizer que os uruguaios estão mais próximos do que poderíamos chamar de “civilização” na América Latina, e o Paraguai está associado à “barbárie”.
Em uma tentativa de ir além da glamorização do Uruguai e do preconceito com o Paraguai, a fim de abranger o entendimento da complexidade da realidade de cada um desses países, em dezembro de 2019, nós viajamos para esses locais, depois de um ano de estudos, e questionamos o motivo desses estereótipos. […] Nossa hipótese principal é que o Uruguai e o Paraguai são opostos de um mesmo fenômeno: constituem as fronteiras do capitalismo dependente na América Latina.
Na atualidade, enquanto o Uruguai vive o outono da cidadania salarial, a acumulação por despossessão que caracteriza o Paraguai se generaliza no subcontinente. Nas páginas seguintes, examinaremos ambas as situações, as quais nos incitam a refletir sobre o passado e o futuro da América Latina.